terça-feira, 9 de junho de 2015

Conto ♥.♥

Boa Noite pessoal *-*
Hoje noite de conto aqui no blog ....

Os contos são do pessoal do FACE e o conto que lhes trago hoje é de LINA STEFANIE - LUZ DA LUA - poxa mtoo bonito esse conto :'(

LUZ DA LUA

Pouco mais de um ano havia se passado após a grande tragédia em minha vida. Morávamos papai, dois irmãos e eu em um barraco no subúrbio de São Paulo. Após o desaparecimento de mamãe nenhum vento brando soprara sobre nossas cabeças.
Quisera eu ainda ser criança naquela época em que tudo era perfeito, tudo era ameno e remediável. Na ânsia de crescer esquecíamos o presente, as brincadeiras no quintal, os animais correndo soltos.
A mãe nos olhando dizia:
— Vocês serão muito felizes, merecem toda felicidade do mundo.
Um desejo fidedigno que lateja dentro da alma de uma mãe. A simplicidade e a luta constante em uma vida que tanto a castigou. Apesar de todas as mazelas jamais se deixou abater, jamais jogou o fardo no chão, agarrando-se ao amor pelos filhos, batalhou sem cessar até vê-los caminhar com os próprios pés.
O aroma do café pela casa, a música cantada alto, o arrastar dos chinelos, sons mais perfeitos de serem ouvidos ao amanhecer, o dia já nascia bom por mais que a mesa não estivesse repleta, estava cheia de amor. As brincadeiras de criança que corria pelo mato, sujo de terra vermelha, sem ter hora de acabar, só eram interrompidas pelo chamado doce da genitora convidando para o almoço.
Ah, a comida servida tinha o melhor sabor que as papilas gustativas poderiam experimentar. Tudo muito simples, mas misteriosamente saboroso.
Engano chegar a crer que nada mudaria, que o tempo não findaria, que tudo permaneceria em seu devido lugar. A vida não perdoa e segue seu rumo, o destino se incumbe de dar continuidade à sina que nunca é como pensamos.
Lembro como fosse hoje, aos oito anos de idade, no dia de finados, mamãe nos acordou bem cedo com o café pronto sobre a mesa da cozinha. Como era de costume tomamos o café juntos e mamãe sempre carinhosa, repetiu por diversas vezes o quanto nos amava. Após o café beijou-nos e disse que iria até o cemitério da cidade visitar o túmulo de nossos avós.
Mesmo com pouca idade eu já senti que aquele seria o último café, senti como fosse uma despedida.
E não foi diferente. O pressentimento infantil não errara e depois deste dia nunca mais vimos mamãe, nenhuma notícia, nenhum rastro.
Papai tornou-se alcóolatra e mal cuidava de nós contando sempre com a ajuda de estranhos. Tempos depois veio a falecer por moléstias causadas pelo abuso do álcool. Não muito tarde perdi também meus dois irmãos para o mundo das drogas. Lembro como hoje o dia que tive de ir ao Instituto Médico Legal para fazer o reconhecimento dos seus corpos. Encontrei-os jogados de qualquer jeito sobre uma maca no frio corredor, mortos por várias perfurações de projéteis de armas de fogo. Após a cena horrenda presenciada por mim ainda muito jovem decidi que não teria o mesmo fim. Este fora o meu primeiro contato com a morte.
Após alguns concursos públicos fui selecionado para o cargo de zelador no cemitério regional. Em tudo tive sorte, pois poderia morar no local. Zeladoria seria apenas mais trabalho, mas no momento de necessidade não tinha escolhas.
O local era agradável, amplo, limpo, bem arborizado. A casa era demasiada grande para as minhas necessidades. Grande responsabilidade para um jovem no auge dos vinte anos. Encarei o trabalho com gratidão. Teria moradia e alimento. Uma tranquilidade após os tempos de tristeza que passaram.
Havia dias de muito trabalho e dias de sossego. Numa cidade grande como São Paulo pessoas morrem todo o tempo. Entre enterros e exumações de cadáver aprendi muito. Tornei-me outra pessoa. Amadureci. Acabamos compreendendo que as coisas não acontecem somente conosco. O sofrimento está por toda parte.
Dias e meses se passaram e observei que tudo se tornava mais fácil. Não sentia medo ou receio de morar no cemitério, não temia os mortos enterrados e exumados diariamente. Nada disso me assombrava. Meu único desassossego eram os sonhos que povoavam minhas noites. Tinha sonhos apavorantes, gritos e gemidos lamuriantes. Uma mulher ensanguentada pedindo socorro. Perdi as contas de quantas vezes acordei desesperado e assombrado com as aparições.
A vida tinha de prosseguir.
Estava sentado na calçada da casa de frente para uma grande árvore frondosa, sentia o vento quente da tarde de agosto tocando meu rosto. Uma sensação de calma e quase torpor. Minha vista caminhou por todos os túmulos à minha frente, percorrendo também o muro branco que circundava o cemitério. Distraí-me por alguns minutos observando os arredores até que uma luz branca me tirou da letargia. Olhei para o alto da árvore à minha frente e me surpreendi com o que vi. Uma mulher sentada de costas para mim no alto daquela árvore. Num salto me levantei e me aproximei.
Seus cabelos dourados balançavam ao sabor do vento cobrindo por completo seu rosto. Andei devagar sem chamar atenção. Em certo ponto senti que minhas pernas já não me obedeciam. Uma dormência nos membros me fez congelar. Algo sobrenatural tomou conta de meu corpo, foi quase uma lembrança, um aroma peculiar tirando-me da dormência. Estiquei uma das mãos como pudesse alcançar aquela visão. Um misto de dor física e padecimento da alma. Neste momento ela levantou-se, ainda de costas. Seu rosto era ainda uma incógnita.
Com destreza, tirou do meio da folhagem uma corda, enrolou firmemente no pescoço e jogou-se do alto com violência. O barulho ecoou na minha mente. Fui jogado longe, como se mãos invisíveis me controlassem por cordões.
De súbito levantei-me. Pernas trêmulas, cabeça latejando. Esfreguei os olhos e fitei aquela cena. A mulher permanecia pendurada. Balançando devagar. Cabeça de lado, cabelos cobrindo o rosto, pés esticados. Aproximei-me ainda incrédulo como se tudo não passasse de uma visão. Toquei aquele corpo inerte, afastei os cabelos do rosto e qual não foi minha surpresa ao vislumbrar o rosto de mamãe. Após tantos anos seu rosto permanecia o mesmo. Ajoelhei-me e chorei.
Ao abrir os olhos já não a vi. Levantei-me e me aproximei da árvore. Com dificuldade escalei o tronco. Sentei-me no galho mais alto. Aquela corda estava mesmo ali. Posicionada estrategicamente como se esperasse por mim. Conferi os nós e a prendi no pescoço. Tarde para qualquer reação, tarde para desistir. Apenas me joguei-me, sob a luz da lua, nos braços da morte.

MUITO LINDO ESSE CONTO NÉ!? 
NADA FOI MODIFICADO NO CONTO E POR FAVOR, NÃO ROUBEM!!!!
ESPERO QUE TENHAM GOSTADO E ATÉ O PRÓXIMO POSTE
:*

2 comentários:

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